quinta-feira, julho 05, 2007

CRÓNICAS DO NORDESTE- Episódio n.º 1

( Crónicas de um Portugal que está a desaparecer… Estas crónicas são ficcionais Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência)

6 da manhã:
O dia estava claro e límpido. Godofredo Glauco depois de amainar o feno para o gado, matou o bicho com uma aguardente que a tia Gertrudes do Divino Espírito Santo tinha feito com umas ervas manhosas . O ardor na garganta fazia lembrar o sol tórrido que costumava fustigar as chapas de zinco da sua curraleira.
No estábulo, um pedaço de cuecas cor de rosa, compradas aos ciganos na feira dos 16, deixadas pela Maria do Amparo, prendia os tomates de um bode à pia dos porcos.
Na noite anterior, Glauco resolveu arejar a sua glande nas pernas roliças e nas carnes tenras da Maria, que serviu de amparo às suas investidas pinoqueiras.
Trabalhar a terra de sol a sol moía a cabeça de qualquer um…Para Godofredo Glauco, nada que meter o caralho numa bom vasilhame, antes que a água ardente ceifasse as suas ilusões de amor..
Para forrar o estômago, sacou de navalha e cortou dois nacos de centeio e umas rodelas de salpicão. Cheio de forças, meteu-se no tractor comprado com um desvio de fundos comunitários, combinado com o Zé Rodrigo da Associação Local. Com uns trocos ainda comprou um Mercedes para ter à porta da sua casa embutida de azulejos e alumínios, próprios da arquitectura tradicional portuguesa…
Naquele dia, o Glauco seria visitado por um engenheiro pimpão do litoral, emproado e que tinha ares de superior. O engenheiro-doutor- arquitecto chamava-se Norberto da Cunha. A mulher colocava tantos cornos lá pelos lados de Amadora-Sintra, que o próprio Godofredo resolveu fazer-lhe uma capa para proteger a mioleira, tal como esses gajos que compram carteiras para os telemóveis. Panascas! Dizia Godofredo, habituado aos rigores do Inverno nordestino e do verão tórrido que queimava os campos esventrados pelas trocas daquilo que chamavam o buraco do ozono…
- Puta que pariu, o ozono, sono- guinchava o Glauco. Vou é tomar um copo de vinho que os gajos da azai –( inspecção alimentar) ainda não mijaram em cima…. Eram 7 da manhã, e uma hora sem beber para Godofredo era um martírio…
De duas penadas devorou o vinho que a tia Gertrudes usava para limpar as humidades, quando se masturbava às escondidas do padre Alfredo, seu amante inconfesso, boémio e amigo do copo. Constava-se na paróquia, que o próprio Instituto da Vinha e do Vinho tinha um protocolo com a mesma, nas provas enológicas. O próprio padre penitenciava os crentes com garrafões de 5 litros de puro álcool!
Aliás, já ninguém dizia bom dia ou boa tarde em, Sto. António das Manhouces. Todos se cumprimentavam com um sonoro “ …Bom Vinho o proteja…!
Godofredo sacou de dois peões , atrelou a enfardadeira ao tractor e meteu-se lá para Trás dos Montes, onde o silêncio tem um ritmo próprio…Poderá!! Ainda levava uma bilha com verde fresquinho para acompanhar uns gafanhotos que colhia, quando fazia os fardos para armazenar para o Inverno que viria ai nas calendas mais próximas..
“..Ah! Foda-se , Engenheiro, haverás de apanhar tamanha moca de licor de merda à minha espera para inspeccionares o meu gado, que até as cruzes te perseguirão…”
O que vale é que Godofredo não tinha telemóvel…
( Continua nos próximos capítulos)

3 comentários:

Raiadão disse...

Espero ansiosamente pelo próximo capitulo!!!

Goya disse...

Devo confessar que, ao ler a tua crónica, fui assaltado por uma nostalgia digna dessas fragas, torgas e gentes.
Acoplado a essa sensação o insaciável desejo dessas amplitudes ébrias é, no minimo, torturante.
E é por isso que te agradeço, caro congregue JN, bendito sejas, por nos relembrares outras medidas temporais, que não estas.
Venham daí, outros enredos...

Cheers

Prof. Morcela disse...

Como diria esse grande p*d*aco de b*st* que t*nt* f*z p*l* n*ss* c*lt*r*, "aqui se fez P*rt*g*l!!!"