O casaco escarlate não usou, pois tinha
De sangue e vinho o jeito;
E sangue e vinho em suas mãos havia quando prisioneiro foi feito,
Deitado junto à mulher morta que ele amava
E matara em seu leito.
Ao caminhar em meio aos julgadores, roupa cinza e gasta vestia;
Tinha um boné de críquete, e seu passo lépido e alegre parecia;
Mas nunca em minha vida vi alguém olhar tão angustiado o dia.
Ao contemplar a tenda azul que os prisioneiros
De céu usam chamar,
E as nuvens à deriva, que iam com as velas
Cor de prata pelo ar.
Num pavilhão ao lado, andei com outras almas
Também a padecer,
Imaginando se seu erro fora grave
Ou um erro qualquer,
Quando alguém sussurou baixinho atrás de mim:"O homem tem que pender".
Cristo! As próprias paredes da prisão eu vi
Girando ao meu redor,
E o céu sobre a cabeça transformou-se em elmo
De um aço abrasador;
E, embora eu fosse alma a sofrer, já nem sequer
Sentia a minha dor.
Sabia qual o pensamento perseguido
Que lhe estugava o andar,
E porque demonstrava, ao ver radiante o dia,
Tanta angústia no olhar;
O homem matara a coisa amada, e ora devia
Com a morte pagar.
Apesar disso-escutem bem-todos os homens
Matam a coisa amada;
Com o galanteio alguns o fazem, enquanto outros
Com a face amargurada;
Os cobardes o fazem com um beijo,
Os bravos, com a espada!
Um assassina o seu amor na juventude,
Outro, quando ancião;
Com as mãos da luxúria este estrangula, aquele empresta do Ouro a mão;
Os mais gentis usam a faca, porque frios
Os mortos logo estão.
Este ama pouco tempo, aquele ama demais;
Há comprar, e há vender;
Uns fazem o acto em pranto, enquanto que um suspiro outros não dão sequer.
Todo homem mata a coisa amada!- Nem por isso todo homem vai morrer
Oscar Wilde